Era uma vez uma criança que tal como todas as crianças, vivia intensamente a magia infantil.
Era uma vez um pai de uma criança que tal como todos os pais, tentava ensinar e transmitir a melhor forma de existir e co-existir neste mundo.
Uma criança especial, filha de um pai especial. Essa especialidade não era nada de supremo ou transcendente. Apenas eram especiais porque estavam ligados um ao outro, na especialidade que deve existir entre pai e filho.
Um dia, o circo veio à cidade. Todas as crianças gostam do circo e por isso, esse pai, disse à criança: "Filho, durante este fim de semana está cá um circo e o pai gostava muito de te mostrar o circo. O pai gostava muito de te mostrar o que de verdade é um circo."
A criança ficou feliz e aceitou prontamente, iria ao circo com o seu pai.
No dia a seguir de manhã, o pai levou o filho ao circo.
Chegados ao local, o filho alerta o pai de que o circo não tinha ninguém, estava fechado. O pai respondeu que sabia, que não tinha intenção de visitar o circo como espectáculo mas que gostaria que o filho visse outro lado do circo, o que está por trás dos risos e das alegrias das pessoas.
Às 8 da manhã desse dia, só animais estavam acordados e o pai mostrou os bastidores do circo, ao longe. O espaço estava bem guardado por cães e o pai decidiu não arriscar pela integridade fisica do filho.
Entreteram-se a contar histórias e a ver os animais que se conseguiam avistar.
Passado uns tempos os tratadores começaram a sair dos seus atrelados e começaram a abrir as portas dos camiões para tratarem da bicharada. A criança ficou com um brilho nos olhos pois iria conseguir ver os animais fora da arena.
O pai disse-lhe que não era a mesma coisa ver ao longe e a troco de um simples cigarro, um tratador deu permissão aos dois para verem os animais de perto.
Foi aí, nessa oportunidade, que o pai com a maior frieza do mundo, mostrou ao filho, provavelmente a primeira desilusão da vida dele, os animais de circo.
O filho, não parecendo incomodado com a decepção, mostrou ao pai que compreendeu o que ele lhe queria mostrar. Entendeu na perfeição a realidade que o pai gostaria que ele visse. E ficou triste, e ficou magoado, e ficou revoltado, porque não era aquilo que queria ver. Queria ver animais bonitos, felizes e bem tratados.
Enquanto o filho fazia festas ao "pónei zarolho", olhava as cabras coxas, sorria para os tigres deprimidos, o pai respondeu que para isso, era o filho que teria que se deslocar até aos animais e não o contrário. Ao seu habitat, com amor e respeito.
O filho novamente entendeu tudo e ao irem embora, depois de um tempo de pensamento silencioso, responde ao pai: "Pai, afinal não gosto do circo, não gosto deste circo."
O pai, que sou eu, apesar de ter achado que provavelmente terá provocado uma grande desilusão, sente ainda que ensinou algo de grandioso ao filho. O respeito pelo planeta e por todos os seus habitantes que têm tanto direito à liberdade e à vida condigna como qualquer outro.
Fiz asneira? Talvez por ter optado por mostrar um ponto de vista desta forma e a uma criança tão nova. Mas sinto-me bastante bem por ter conseguido, nos primeiros anos de vida do meu filho, ter-lhe mostrado que nem tudo é como se vê, nem tudo é tão brilhante e tão bonito como nos é apresentado.
E o circo amigos, o circo nestas condições, não merece que lhe demos qualquer dia de aprovação. Nem para permitir aos nossos filhos que tenham a oportunidade de ver animais selvagens ao vivo.
Se gosta de animais, diga não a este entretenimento que se revela tão cruel e desumano. Contribua para um Mundo melhor, mais respeitador e mais consciente.
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