segunda-feira, 18 de outubro de 2010

2º Dia e meio - Receita (em jeito de TalkShow-RH)

Vegetais à portuguesa

Pegue-se num cérebro humano, de estatura mediana, aproximadamente 1 quilo e duzentas gramas, de um espécime novo.

Faça-se uma incisão longitudinal, central, de modo a separar os hemisférios.

Uma vez separados, independente da caracteristica do receptor, extraiam-se as áreas de Broca e de Wernicke, pois poderão provocar alteração de sabor e/ou saber. Limpem-se ambos os hemisférios, de quaisquer vestigios de lógica, conhecimento, associação de ideias, formação de pensamentos, enfim, qualquer parte requerida para associação e desenvolvimento cognitivos.

Deixe-se apenas o factor motricidade (voluntária ou involuntária, tanto faz) tendo cuidado para não danificar os córtex motor e pré-motor, o cerebelo e as áreas de função de regulação e controlo internos do organismo, as homeostáticas, o hipotálamo, etc.

Quanto aos lobos, iniba-se sem demora o córtex pré-frontal do lobo frontal. Tenha o cuidado de não danificar grandemente o lobos occipitais, deixe só a caracteristica de reconhecimento de objectos e palavras, algumas. De forma alguma danifique os lobos temporais e destrua por completo os lobos parietais.

Uma vez preparado o cérebro, há que temperar a gosto (neste caso, português).

Utilize-se uma seringa por melhor servir para o preciosismo do tempero.

Para um cérebro moderno, apanhe-se o frasco cuja etiqueta refere "séc. XIX" (cruz caída para a esquerda, pauzinho no ar e cruz caída para a direita), pois os entendidos em modernismo acham que será um tempero equilibrado.

Encha-se então a seringa de 100 miligramas de conteúdo do frasco e insira-se a cânula em vários pontos do cérebro deixando que o líquido entre eficazmente na sua textura ondulada.

Siga-se para o frasco de cultura moderna. Se este frasco for de produção de qualidade, será composto por vários pozinhos, líquidos e elementos todos eles importantes para o sucesso da receita:

-pó de arena usada com pelo menos 85% de sangue de boi torturado e 5% de forcado agredido,
-pó anti-micótico extraído de chuteira de futebolista (bem pago),
-fios de xaile de doze cordas (Ah Portuguesa!!),
-pele esfolada de peregrino de Fátima,
-saliva seca de contestação tributária,
-nódoa negra de espancamento policial (fardado ou paisana, tanto faz),
-restos de folclore,
-réstias de aculturamento, má formação e deseducação.
-todos os fonemas de um:"porreiro pá"
-pedaços de carta da DGCI
-partes das 5 novelas diárias
-trechos de 2 reality-shows
-4 páginas de um Correio da Manhã
-5 minutos de TVI
-analfabetismo voluntário
-pó de lágrima seca de penhora bancária
-fluído etéreo de mágoa de individamento
-um cinto perfurado até à fivela onde já não dá mais aperto
-resquício de saudade passadista
-aroma de fado malfadado
-cacos de memórias ilustres
-penas de galinha e alcatrão
-fios de marioneta de louça das Caldas
-restos dos fatos de Viriato e de Afonso Henriques
-a infelicidade do que é ser-se o Ser Vazio

Bata bastante o preparado, PIMBA, PIMBA, PIMBA, até ver que está no ponto.

Deixe repousar, é disso que ele gosta.

Para compor esteticamente o "prato", pode inserir nas fissuras do cérebro, uma salada de folhas coloridas.

Dependendo da riqueza que deverá querer dar, deverá utilizar as respectivas folhas.

Eu aconselho somente a utilização de folhas púrpura, amarelo-torrado, verde e cor-de-laranja. Poderá utilizar uma ou outra azul mas de forma alguma utilize vermelhas e cinzentas pois tornam muito pobre o objecto. VERIFIQUE QUE AS FOLHAS POSSUEM OS SEGUINTES ELEMENTOS ORIGINAIS: marca de água, filete de segurança e holograma.

Poderá também dar um "toque" mais humilde à composição inserindo também nas fissuras, alguns discos bicolor de cupro-níquel, níquel e latão. Aqueles que têm um desenho tipo patinho a fugir da gaiola "2€". NÃO ABUSE DOS DISCOS!

Depois de composto o "ramalhete", feche novamente o cérebro mesmo sem se preocupar se ficou bem fechado. É irrelevante se ficou mal-posicionado, deformado ou desmembrado.

Aplique o cérebro no receptáculo. Analise convenientemente para observar as reacções do mesmo. Anote qualquer reacção adversa para que para a próxima tenha a atenção nessa particularidade.

Se tudo correu bem, acabou de criar um VEGETAL À PORTUGUESA. OLÉ!!

(Imagens do prato, brevemente

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